Câncer Reto. Portugues
O
câncer colorretal (CCR) é a neoplasia maligna mais comum do tubo digestivo,
teve sua incidência aumentada nos últimos anos, principalmente em áreas consideradas
de baixo risco como os países em desenvolvimento. No Brasil em 2014 a
estimativa de novos casos é de aproximadamente de 32.600, sendo 15.070 homens e
17.530 mulheres segundo os estudos do INCA 2. Alem disso é o
terceiro câncer mais frequente no mundo, sendo o quarto tipo de neoplasia mais
frequente em Brasil. Estes números correspondem a um risco estimado de 13 casos
novos a cada 100 mil homens e 15 para cada 100 mil mulheres. 3
O CCR é um problema de saúde mundial, com uma
incidência anual de cerca de 1 milhão de casos e uma mortalidade anual de mais
de 500.000. A taxa de sobrevida em 5 anos para estádios I, II e III é de
aproximadamente 80-90%, 50-60% e 30-40%, respectivamente. 4
Segundo
a Organização Mundial da Gastroenterologia, em 2013 o número absoluto de casos
aumentará nas próximas duas décadas como resultado do envelhecimento e expansão
das populações. 5
Frequentemente
agrupa-se o câncer de cólon com o de reto uma vez que a epidemiologia,
etiologia e patogênese são muito semelhantes. Porém algumas características os
tornam bastantes diferentes entre elas embriologia, histologia, anatomia
regional e topográfica. Por isso, as doenças malignas destes órgãos têm
biologias únicas com vias de disseminação tumoral distinta e relações
anatômicas específicas. Seus tratamentos são ímpares e geralmente distintos. O
câncer de reto acomete aproximadamente 41 mil pacientes nos Estados Unidos por
ano
1.2
Estadiamento do câncer de reto
O
estadiamento clínico baseia-se no exame físico, e em exames complementários
como a colonoscopia, a ressonância magnética da pelve (RM) tomografias de tórax
e abdome, o antígeno carcino-embrionário (CEA). A ressonância magnética (RM) de
pelve é o melhor exame para identificar a invasão do mesorreto 7,8.
A ultrassonografia (US) endorretal também pode ser utilizada no estadiamento
por apresentar ótima sensibilidade e especificidade para a avaliação da
extensão do tumor (T). 9
1.3 Tratamento cirúrgico do câncer
de reto
O tratamento moderno do carcinoma
do reto foi influenciado profundamente pela obra de Ernest E. Miles, publicada
em 1908. Miles identificou as vias potenciais para a disseminação linfática dos
tumores retais e estabeleceu a base fisiopatológica para a excisão
abdominoperineal como abordagem cirúrgica preferida para o tratamento dos
pacientes com carcinoma do reto. A mortalidade relatada inicialmente (41%) com
esse procedimento retardou sua aplicação generalizada; porém, por volta de
1930, a ressecção abdominoperineal (RAP) tornara-se tratamento consagrado para estes
pacientes. Apesar da declarada preferência pela maioria dos cirurgiões
colorretais na época, esse procedimento resultava em uma taxa de sobrevida após
cinco anos livre de doença em torno de 50%.
Estudos realizados a partir de 1978
pelo grupo Basingstoke, na Inglaterra, capitaneados pelo Prof. Heald,
confirmaram a observação clínica de que a disseminação linfática lateral e
inferior do carcinoma retal é incomum. O acometimento dessas zonas de
disseminação linfática ocorre nos paciente com doença avançada, em geral
incurável. Esses conceitos deram nascimento ao que vem sendo aclamada como o
mais importante determinante técnico a ser seguido nas operações oncológicas sobre
o reto, a excisão total do mesorreto (ETM). A técnica consiste na dissecção
precisa e cuidadosa ao redor do reto na pelve objetivando preservar a
integridade da fáscia visceral do reto, que representa a camada mais externa do
envelope de tecido gorduroso e da fáscia parietal. Através dessa manobra,
espera-se que quaisquer micrometástases presentes no tecido linfovascular que
compõe o mesorreto juntamente com o tecido gorduroso perirretal sejam removidas
em bloco com o tumor primário. Com a remoção completa do mesorreto diminui-se a
recidiva local, pois remove-se todo o tecido linfovascular à volta do reto que
correspondia o local preferencial para a deposição de micrometástases.
Assim, a adoção universal da
excisão total do mesorreto como padrão ouro para o tratamento do câncer do reto
causou um impacto significativo na diminuição da recidiva local, no aumento da
sobrevida e no número de cirurgias com conservação do esfíncter. A sua
introdução mudou a abordagem cirúrgica, diminuindo as taxas de recidiva de
30-40% para menos de 10%, e aumentando a sobrevida aos 5 anos de 40-45% para
cerca de 75% e reduzindo as frequentes complicações de disfunção
genito-urinária para cerca de 20%. 97
1.4 Papel da quimioirradiação
neoadjuvante
O grupo de câncer colorretal da
Holanda, concluiu que a radioterapia pré-operatória em curto prazo reduz o
risco de recorrência local em pacientes com câncer retal que se submetem a uma ETM.
O emprego da radioterapia está associado ao melhor controle local da doença. A
possibilidade de potencializar o efeito da radioterapia bem como melhorar o
controle sobre o aparecimento de metástases à distância decorrente da
proliferação de micrometástases representam o racional do tratamento combinado
por quimioterapia e radioterapia.
Desde que os primeiros resultados
dos grupos de trabalho de Oncologia Cirúrgica, de Radioterapia Oncológica e da Sociedade
de Oncologia Médica da Alemanha, publicados por Sauer em 2004, a
quimioradioterapia pré-operatória (QRN) tem sido estabelecida como o tratamento
padrão para o câncer retal localmente avançado, uma vez que mostrou uma melhor
taxa de controle local, maior preservação esfincteriana e menor índices de
toxicidades relacionadas à quimioradioterapia. 10
A recidiva local após tratamento
curativo representa o maior desafio aos profissionais envolvidos na cura do
câncer no reto avançado e pode ser superior a 30% conforme verificado em
estudos controlados onde o tratamento cirúrgico exclusivo foi avaliado. A
possibilidade de causar a diminuição no tamanho do tumor, ou sua regressão
completa por meio de quimioradioterapia, bem como a possibilidade de aumentar a
chance de preservação do aparelho esfincteriano para os pacientes portadores de
câncer no reto inferior são o racional da quimioirradiação neoadjuvante.
Assim, para obter sucesso no
tratamento do câncer do reto exige-se uma equipe multidisciplinar composta por
cirurgião, radiologista, radioterapeuta, oncologista e o patologista. O
tratamento multimodal do câncer retal, com a combinação de radioterapia, quimioterapia
e cirurgia, tornou-se a abordagem preferida para o câncer retal localmente
avançado.
1.5 Importância do número de LN nos
espécimes
De acordo com as conclusões do
congresso mundial de Gastroenterologia de Sidney em 1990, com a União Internacional
Contra o Câncer (UICC) e com o Comitê Americano sobre Câncer (AJCC) em 2002,
recomenda-se um mínimo de 12 LN que devem ser obtidos no espécime cirúrgico
para o estágio do câncer colorretal.1,2,3 No câncer retal, a ETM tem
uma importância essencial para obter a margem oncológico, e mais que 12 LN. A
remoção inadequada do mesorreto pode resultar em subestadiamento, pior
sobrevida e maior taxa de recidiva local, que está associada com
morbi-mortalidade significativa. 4-9
Alguns
estudos sugerem que de acordo com a maior quantidade de LN ressecados no
espécime cirúrgico, maior é a incidência de LN positivos para câncer18,42.
A presença da metástase linfonodal tem um pior prognóstico quanto à recorrência
e a mortalidade associada ao câncer, e nesses pacientes estaria indicada a quimioterapia
adjuvante. 43,44
No entanto, a literatura mundial
demonstra uma diminuição dos LN quando comparam pacientes com neoadjuvância com
pacientes sem QRN. Miller et al em 2012, em uma revisão sistemática da
literatura, encontra uma diferença significativa nas publicações mundiais,
comparando pacientes com câncer de reto, tratados com QRN e cirurgia e só
cirurgia, com uma diminuição dos LN de 7 até 53%. 11-15
Isto eventualmente pode ser
explicado pela resposta ao tratamento neoadjuvante com involução da doença nos LN,
determinado diminuição do tamanho e fibrose nos mesmos, tornando-se muito mais
difícil sua identificação pelos patologistas. No entanto, alguns outros fatores
têm sido apontados como responsável pela redução dos LN em pacientes com câncer
retal submetidos à QRN, tais como sexo, idade, avaliação patológica do
espécime, ETM incompleta, localização do tumor, presença de LN positivos, entre
outros 16,17
Frente ao exposto, na literatura existem
dúvidas quanto aos fatores que possam influenciar na obtenção do número de LN
na peça cirúrgica para o adequado estadiamento dos pacientes com câncer de reto
submetidos à QRN e ETM.
1.
Sauer R, Becker H, Hohenberger W, et al. Preoperative versus postoperative
chemoradiotherapy for rectal cancer. N Engl J Med 2004;351(17):1731–40.
2.
Folkesson J, Birgisson H, Pahlman L, et al. Swedish rectal cancer trial: long
lasting benefits from radiotherapy on survival and local recurrence rate. J
Clin Oncol 2005;23(24):5644–50.
3.
Kapiteijn E, Marijnen CA, Nagtegaal ID, et al. Preoperative radiotherapy
combined with total mesorectal excision for resectable rectal cancer. N Engl J
Med 2001;345(9):638–46.
4.
Peeters KC, Marijnen CA, Nagtegaal ID, et al. The ETM trial after a median
follow up of 6 years: increased local control but no survival benefit in
irradiated patients with resectable rectal carcinoma. Ann Surg 2007;246(5):693–701.
Introducción de mi tesis para Doctorado en la Universidad de Sao Paulo
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